Parceria entre Brasil e Japão é, historicamente, muito importante para a evolução do setor de seguros em território brasileiro
Carol Rodrigues
Um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação foi assinado pelo Brasil e o Japão em 1895. A “aliança de amizade”, como ficou definida, selou a relação diplomática e a amizade entre os dois países que, neste ano, comemora 130 anos. Essa parceria contempla um intercâmbio cultural e econômico e, claro, no quesito seguro, vai além.

“Os laços centenários entre Brasil e Japão trouxeram benefícios reconhecidos para enriquecer a nossa cultura, gastronomia e estilo de vida. Mas, além disso, essa integração contribuiu para que práticas reconhecidamente próprias da experiência de gestão de riscos de seguros também fossem trazidas para terras tupiniquins”, diz Ricardo Ushinohama, head de Seguros na Toyota Corretora de Seguros.
“A vinda de grandes empresas japonesas ao longo destes mais de 100 anos de imigração trouxe consigo várias seguradoras japonesas, que aqui se estabeleceram e contribuíram com suas experiências internacionais para o amadurecimento do mercado e a formação de várias gerações de profissionais de seguros”, acrescenta.
Um deles é o Grupo Tokio Marine, o mais antigo conglomerado securitário do Japão. Criado em 1879 com a filosofia de dar amparo àqueles que sofrem uma perda, o grupo ingressou no mercado brasileiro com esse mesmo propósito em 1959 e hoje é uma das principais seguradoras do País.

“O Japão tem uma longa história de enfrentamento a desastres naturais como terremotos, tsunamis e tufões. Essa realidade moldou uma cultura de forte conscientização sobre a importância da prevenção e da proteção — e o seguro se tornou parte fundamental desse processo”, comenta Masaaki Itakura, diretor Executivo de Estratégia Corporativa da Tokio Marine no Brasil.
Ele lembra que, no Japão, o seguro não é visto apenas como um produto financeiro, mas como uma ferramenta essencial de resiliência, tanto para indivíduos quanto para empresas.
“Esse histórico impulsionou o desenvolvimento de produtos específicos voltados para riscos catastróficos e fortaleceu a relação de confiança entre a sociedade e as seguradoras. A parceria entre Brasil e Japão tem sido muito importante para a evolução do setor de seguros no País. A cultura japonesa valoriza o planejamento financeiro, a gestão de riscos e o seguro como instrumento de estabilidade social — e esse olhar vem contribuindo significativamente para ampliar a conscientização dos brasileiros sobre a importância de se proteger”, diz o diretor da Tokio.
“Com a chegada das seguradoras japonesas ao Brasil, houve um impulso na modernização do setor, com a introdução de práticas avançadas de governança, tecnologias de análise de dados, prevenção de fraudes e um modelo de atendimento altamente qualificado e centrado no cliente. Além disso, pilares como sustentabilidade, ESG e responsabilidade social — fortemente presentes no Japão — passaram a ganhar mais espaço no mercado nacional”, comenta Itakura.
Esse intercâmbio trouxe ganhos concretos: mais inovação, maior eficiência e uma visão mais estratégica sobre o papel do seguro na vida das pessoas. “Em uma tragédia, não temos como reparar o dano emocional que as pessoas sofrem, mas é muito importante cuidar de quem sofreu uma perda e permitir a reconstrução financeira dos locais atingidos”, diz Itakura.
Cultura de prevenção
“Como o Japão é um país propenso à ocorrência de catástrofes como furacões, terremotos, inundações e tufões, entre outros, as seguradoras que aportaram no Brasil trouxeram a cultura de que a prevenção é fundamental para reduzir perdas humanas e financeiras”, destaca Itakura.
Com isso, segundo ele, houve o reforço no Brasil de pilares como gestão de riscos, educação e capacitação de corretores e clientes, transferência de boas práticas globais, como modelagem de catástrofes naturais e responsabilidade. “De certa forma, as seguradoras japonesas atuam como embaixadoras da cultura da prevenção, ajudando a consolidar a visão de que o seguro é um agente de transformação de comportamento”, comenta o diretor da Tokio.
“Com a migração, além dos nossos antepassados, várias empresas japonesas – de seguros e de outros segmentos – se estabeleceram por aqui. Junto com elas, uma cultura de prevenção a risco muito grande. Quando esta cultura se traduziu em menos custos para o mercado de seguros e, consequentemente, na redução de prêmios pagos, esse modelo se expandiu para outros segmentos amparados pelas seguradoras”, analisa o head de Seguros na Toyota Corretora de Seguros.
Para Ushinohama, de fato, o mercado japonês está mais amadurecido quanto à cultura do seguro, fruto de uma constante preocupação de mitigar impactos financeiros. “Aqui no Brasil, vejo que estamos em um caminho de amadurecimento. A influência da cultura de prevenção de risco e perdas vai além das paredes de nossas indústrias, passando por fornecedores e chegando até mesmo aos clientes finais que consomem nossos produtos”.
Ele cita como exemplo algo que estamos vivenciando hoje, com o envelhecimento da população (que já acontece no Japão há muitos anos). Houve um aumento expressivo de pessoas procurando planos de saúde específicos para a terceira idade, onde países com este tipo de comportamento são extremamente válidos para entender o comportamento desta faixa etária quanto ao uso do seguro saúde. “Outro dado interessante é a demanda crescente de determinados tipos de seguros de propriedade e responsabilidade civil, nos quais, reconhecidamente, as seguradoras japonesas são especialistas”.
“Olhando para a nossa indústria – automotiva e de seguros – vimos uma grande revolução quando as práticas de qualidade total, associadas a metodologias de melhoria contínua da indústria fabril japonesa, encontraram-se com as medidas de prevenção de riscos, propostas pelas seguradoras nipônicas. Reduzir riscos e mitigar perdas fazem parte do nosso DNA comum, mas que se expandiram como práticas e benefícios para todo o mercado brasileiro de seguros”, comenta o head de Seguros na Toyota Corretora de Seguros.
Com isso, conforme Ushinohama, as seguradoras japonesas expandiram suas práticas e modelos oriundos da indústria japonesa para outros segmentos, mostrando que quando uma política de gestão de risco se encontra com a cultura de melhoria contínua, sempre se traduzirá em redução dos impactos de qualquer desastre que afete o negócio.
Ele destaca que, sob a ótica da indústria automotiva, uma única voz ecoa dentro da Toyota, sobre os aspectos de qualidade, melhoria contínua e respeito ao próximo. “Dentro do segmento de seguros, há um intercâmbio constante entre todas as unidades de seguro da Toyota no mundo, com trocas de experiências, produtos e boas práticas para tornar o ambiente que envolve a Toyota e nossos clientes mais protegidos e seguros”.
Conteúdo da edição de junho (276) da Revista Cobertura