“Houve uma forte precarização do trabalho durante a pandemia. Nós teremos que ter políticas no Brasil para tentar diminuir esse fosso”, disse Eduardo Gianetti
Karin Fuchs
O Brasil vive um momento de muitas incertezas, com uma inflação alta, desaceleração e estagnação da economia, com um PIB negativo e, além disso, com uma alta taxa de desemprego aliada à uma população que está na informalidade. Durante o Congresso da MAG Seguros, Eduardo Gianetti, economia e professor da USP e do Insper, falou sobre esse cenário.
“Não me conformo que, no Brasil, cerca de 40% da população economicamente ativa não tenha uma situação regular de emprego. Não dá para estar em um País em que quase a metade da população vive à margem da economia formal. Acho que essa deveria ser uma das maiores prioridades do novo governo”, defendeu.
Segundo ele, é preciso incorporar esses brasileiros à cidadania. “Participar do mercado de trabalho de maneira digna e plena é um elemento crucial da cidadania e as pessoas não podem ser privadas desse direito. Algo que seria corriqueiro em um país organizado, no Brasil é quase um privilégio ter uma carteira assinada, ter um emprego formal”.
A necessidade da qualificação profissional ficou mais evidente na pandemia. “As pessoas qualificadas já voltaram ao emprego e muitas vezes em melhores condições. Isso não acontece para boa parte da força de trabalho que não tem qualificação e não está conseguindo se colocar no mercado de trabalho formal. Houve uma forte precarização do trabalho durante a pandemia. Nós teremos que ter políticas no Brasil para tentar diminuir esse fosso que se tornou ainda mais largo do que era no passado”, afirmou o economista.
Globalmente, Giannetti comentou que há três certezas para o mundo pós-pandemia: o crescimento do endividamento do mundo, a redução da globalização e a vivência cada vez maior no mundo digitalizado. No Brasil, além do desemprego, os desafios são a alta taxa de inflação, a economia estagnada e o ano eleitoral. “A nossa incerteza pelo ponto de vista fiscal e uma eleição muito disputada, mexem com os humores dos agentes econômicos”.
Brasil em destaque
No mesmo painel, a Dra. Margareth Dalcomo, infectologista e pesquisadora da Fiocruz, pontuou mudanças com a pandemia. O primeiro deles foi a sociedade conhecer a comunidade científica brasileira. “Ao invadirmos a casa dos senhores quase todos os dias, nós nos humanizamos de certa maneira”, comentou. O segundo, é a importância da cultura do voluntariado.
Como exemplo, ela citou iniciativas como o Todos pela Saúde e o União Rio, no Rio de Janeiro, que doou milhares de cestas básicas para as comunidades carentes. “O Brasil, com essa desigualdade social que nos constrange e nos envergonha, tem a chance de criar a cultura da doação séria e importante, financiando pesquisas, subsidiando programas de melhoria de qualidade de vida da nossa população. Investir em produção científica é tão importante quanto produzir remédios e fármacos”, afirmou.
O terceiro é a autonomia do Brasil para a produção de vacinas e não somente para a produção do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo). Segundo ela, isso permitirá ao Brasil assegurar vacina para a população e até colaborar com os países da América Latina. “Hoje, a Fiocruz é um grande produtor de testes e precisamos receber todos os incentivos para mantermos essa produção e tornar cada vez mais fácil o acesso ao diagnóstico de covid-19”.
A Dra. Margareth Dalcomo também destacou a produção científica brasileira. “O Brasil é o 10º país em publicações científicas durante o período pandêmico, o que não é pouca coisa, com todas as adversidades que vivemos”.


