Desvalorização do dólar indica perda de confiança dos investidores, avaliam economistas da Allianz Trade

Relatório publicado nesta sexta-feira aponta que a taxa EUR/USD deve chegar a 1,12 no final deste ano

À medida que o segundo mandato de Donald Trump nos EUA atinge a marca dos 100 dias em 30 de abril, os economistas da Allianz Research, departamento de pesquisa da Allianz Trade, líder mundial em seguro de crédito, analisam os impactos das medidas do presidente americano no dólar.

O relatório What to watch: The cost of a weaker dollar, tariff turbulence ahead for the travel industry and chip war reloaded, aponta que o índice do dólar ponderado pelo comércio caiu para o nível mais baixo desde 2022 na última semana e já acumula uma queda de 10% desde a posse de Trump. A taxa de câmbio EUR/USD chegou a ultrapassar 1,15, fazendo com que o euro se valorizasse 11% frente ao dólar desde o início do ano (Figura 1).

Perda de confiança

Os autores do estudo acreditam que a desvalorização do dólar tem sido impulsionada por uma perda de confiança dos investidores na política dos EUA. “A perda de valor do dólar foi, em grande parte, causada pela saída de capitais (ou menor entrada) dos EUA como um todo, à medida que os investidores perderam confiança na economia do país após medidas erráticas e agressivas. A guerra comercial em larga escala iniciada no Dia da Libertação, há três semanas, e, mais recentemente, os ataques à independência do Fed, assustaram tanto investidores domésticos quanto estrangeiros, fazendo com que o dólar se desvalorizasse”, afirmam.

Os autores analisam ainda que a desvalorização do dólar foi reforçada pelos ataques da nova administração à independência do Fed – um pilar da confiança na moeda de reserva global. Pressões políticas sobre o Fed para flexibilizar a política monetária não eram vistas desde os anos 1970, quando A. Burns liderava a instituição – embora, nesse caso, tenha acontecido de forma menos explícita e, em geral, a portas fechadas. Pesquisas econômicas recentes sugerem que o aumento da pressão política sobre o Fed (que se intensificou durante a presidência de Nixon) e o enfraquecimento da sua independência de fato nos anos 1960 e 1970 foram causas centrais do surto inflacionário da época – talvez até mais que choques como a alta do petróleo ou o fim do sistema de Bretton Woods.

Impactos das taxas de juros

Os economistas explicam que normalmente, uma moeda é amplamente influenciada pelos diferenciais de taxas de juros. Quando os juros dos EUA sobem em comparação com outros mercados, o dólar tende a se valorizar por se tornar um investimento mais atraente, e vice-versa. Desde os amplos anúncios de tarifas em 2 de abril, esse padrão foi rompido (Figura 2). Os investidores venderam o dólar mesmo com o aumento dos rendimentos, o que indica que estão se desfazendo de títulos e ações americanas e convertendo os recursos para outras moedas, especialmente o euro. Dados preliminares dos autores do estudo mostram que fundos de pensão japoneses e investidores de varejo europeus reduziram seu interesse por ativos americanos.

Para os economistas, no entanto, as condições econômicas atuais dos EUA não justificam cortes nos juros:

apesar dos ventos contrários que ameaçam elevar o desemprego, as perspectivas de inflação pioraram com os aumentos abruptos nas tarifas. Embora esse tipo de inflação induzida por tarifas costume ser considerado um aumento pontual de preços, o fato de que as expectativas de inflação das famílias para o médio prazo dispararam recentemente sinaliza o risco de uma desancoragem em relação à meta de 2% do Fed.

“O diferencial esperado de juros, com base em nossas projeções para inflação, taxas de juros e rendimentos de longo prazo para a zona do euro e os EUA, sugere que a taxa EUR/USD deve chegar a 1,12 no final deste ano

e 1,10 em 2026, com um amplo intervalo de confiança, dada a grande incerteza”.

Para acessar o relatório completo em inglês, clique aqui

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

Anuncie

Entre em contato e descubra as opções de anúncios que a Revista Cobertura pode te oferecer.

Eventos

Próximos Eventos

Mais lidas da semana

Mais lidas